30.3.17

Jogos sem fronteiras

Olha:
uma folha em branco.
A forma à espera
de tamanho.
Um cuidado em diligência.
Lápis sentado
entre a muleta do pensar.
Um comboio atrasado
à frente da nuvem.
O gato sonolento
ronronando.
A bandeira rasgada
ao vento vadio.
A faca esgaçada
no estertor da ira.
O deserto do rosto
sob o gelo contumaz.
A urze que medra
no desmentido do outono.
O pregão sem rosto
na voz deslaçada.
A página roubada
ao plágio improvável.
A trova mugida
do lóbulo estrelar.
Frutos podres
antes do tempo.
O tempo que foge
na penumbra coagida.
A coação das palavras
sob a égide de uma espingarda.
Espingarda maleita
no avesso do mar.
Mar desnatado
sem fruição.
Discurso obnóxio
de pajens sem vontade.
Um posfácio sem redenção
no aproveitar da roda incansável.

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