Não era meu o
caderno de encargos
nem minhas as
empreitadas
ditadas em
estiradores outros,
pois dessas mãos
não era eu arquiteto.
Não quis
adivinhas mendazes
nem toleimas
(quem sabe?) algozes
nem a transgressão
só por o ser.
Houve alturas
em que só sabia
o que não queria
e do demais não
tinha como saber.
Do vento à volta
recolhi o sal
bastante para um devir
e de volta à
sementeira devolvi a alma
fruída
lavada
acesa.
Sabia que o
tempo é um ardil
e os relógios
compostos na linha do horizonte
emprestam ao
olhar uma distração
o seu gasto
lugar-tenente
um fogo sem
chama
como se o dia
fosse ártico em invernia
e a noite monopólio
castrador.
Diz-se
que todos
sabemos um módico
um singelo saber
pertença de um
conhecimento humilde,
as proezas às mitológicas
personagens
que julgam não
caber dentro do tamanho seu.
Quis-me,
propositadamente,
meão,
a anatomia de um
anonimato perpétuo
uma voz quase em
silêncio
as palavras
deixadas em segredo
num murmúrio que
nem os pássaros ouviam
e, todavia,
era a antítese
da letargia.
Deixei-me passar
a fronteira
entre o dia que
foi eflúvio
e o dia que era
promitente
uma aurora que
sabia não ser boreal
um entardecer
que não estendia o fio de luz
a calmaria
profunda, estrutural,
que removia as
hastes dos arbustos corpóreos.
Dei comigo
em lugares
distantes
sem saber como
neles aportei.
Dei comigo
a fazer juras
incobráveis
em coreografias
rivais com o medo dos deuses
sem o temor das enfurecidas
superstições
sem a erudição
dos eruditos que de tudo sabem
menos a morada
dos diabos à solta.
Arranjei as árvores
decadentes
semeei os beijos
ternurentos
dei guarida
às preces condoídas
que não eram minhas
tirei escala ao
despojamento dos arbítrios
na feérica lantejoula
que pousou no meu ombro
entre lágrimas
do avesso
e um amplexo demorado
a quem fosse dele credor.
Nunca soube a
cor das cadeiras sentadas
nem quis saber o
sabor das palavras explosão
(em constantes
devaneios da alma)
não soube terçar
remorsos sem serventia
não pude travar
a mentira servil
nada pude contra
os fautores da infâmia.
Fui prisioneiro
de vícios mentais
à falta dos
outros,
terrenos e
mundanos
(assim o dizem).
Escrevi o vinho
florestado
nas estreitas estradas
dos campos escarpados
sob o olhar de
atónitos aldeões envelhecidos
e a bênção
dos esteios de
xisto que amparavam as vinhas
no palco dos socalcos
amaciados,
as minhas mãos
como batuta.
Estive errado
no lado contrário
do tempo gentio
no raiar mestiço
de dias sem cor
nas páginas sem sentido
nas páginas
depois amarrotadas
no extemporâneo estuário
em forma de leito
no regaço
demandado
em febril constelação
do desamparo.
Terrivelmente mortal
(até para o meu
gosto)
levo o império
do mundo
na companhia da
alma em êxtase.
Não trago o
passado comigo
nem envergo os
trajes do devir
pois do devir
tenho espera marcada
à medida das águas
serenas de um rio acalmado.
Os relógios estão
à espera.
E eu
contemplando a linha
divisória do horizonte
no palco de um
miradouro escondido
espero.
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