3.4.17

Desmedida

Um bando de pássaros
desenha o céu
em voo sincronizado.
Sucedâneos das nuvens
na fartura invernal.
Em emboscada à coesão do bando
um pássaro tresmalha-se
e, sem as asas protegidas
pela bússola do bando,
aprende a solidão.
Antes que outro bando o encontre
agita as masmorras do desprendimento
sopra a poeira que se abatera nas asas
e regressa a um lar com as asas ungidas
pelo perfume santuário do cais descoberto.
O pássaro esqueceu-se de contar
como são os degraus inclinados da solidão.
No recolhimento do bando
reaprendeu a ser comum.
Até que alguém sussurrou:
toma atenção
pássaro recluso da ingenuidade,
que o bando vai querer de ti
o sangue e a carne
se preciso for
e para te convencerem
dir-te-ão seres nula entidade
no meio do grupo venerado.
O pássaro
desconfiado
recusou tudo o que se lhe oferecesse
em ardilosa congeminação
que desaprovasse a sua vontade.
Não foi ave solitária
tresmalhada
nem se empenhou
na simbiose forçada do bando.
Uma vez sem exceção
o pássaro fez a síntese dos impossíveis.

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