19.4.17

Amanhã

O piano dedilhado no rumor manso
e as páginas que voam com a noite furtiva
sem convidar o desespero
sem evocar as malsãs esquinas do tempo
na admiração perene do que houver
por admirar
nem que seja pouco
nem que seja quase tudo.
Sentam-se os dedos no veludo da flor
e o mar plano chega para leito dos sonhos
no avesso do dia soalheiro
e do vento rebelde.
Às dúvidas
manda-se dizer que persistam:
não se encomenda mal atilado
se interrogações permanecerem acesas
sem refutações ensaiadas.
A gente na rua
prova o esteio impecável do planeta
sem contemplação 
com os que encontram nos outros
o diabo em pessoa.

Não tem importância.

Desajeitam-se os cabelos sem penteado
coíbe-se o estremunhar dos olhos
e as múltiplas facetas da alma 
erguem-se no altar
onde,
impantes,
os vivedores compulsivos
se consagram
a si e à vida
no palco imenso onde o público
é imperador.
Os estouvados precursores do desconhecido
ensinam estilos avulsos
esboçam estrofes que atestam memórias
sem soçobrar aos vulcões adormecidos
sem deixar de mestiçar o que não é par.

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