Os deuses
no tempo em que os havia
andavam nus
com as
(a julgar pelos quadros dos pintores
clássicos)
derruídas
protuberâncias em exposição
e ninguém
protestava contra a indecência.
Dir-se-ia
(se a filosofia não atraiçoa)
que aos deuses tudo era caucionado
até a
impudicícia da nudez
até
dedos erguidos de deus para deus
pressagiando terrífico gosto pelo sexo igual.
Ou então
a vergonha de hoje
quando a nudez dos corpos
merece agravo do pudor instituído
é
uma cortina que esconde
pessoais agravos que fermentam
mal resolvidas interiores demandas
(em linguagem decifrada:
as pessoas
têm
ocultada procura por corpos outros
por pudor dos corpos próprios).
Ou então
os deuses são uma versão disfarçada
dos terrenos homens,
sofisticação
ardilosa da imaginação
projetada numa tela
em estátuas
mirificas
em tetos de capelas projetados
na infértil
imaginação
de gente despovoada de critério próprio.
Em falta está
a imperativa falta de humildade
para as pessoas se considerarem
deusas de si mesmas.
O que está em falta
é um deus privativo em cada indivíduo.
Ou então
decretar-se
de uma vez por todas
a falência
dos deuses
e da própria
ideia de deus.
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