A sorte do penhasco
é ser promontório soberano
varanda que fratura a paisagem
entre o sopé dominante
e a planície súbdita.
Agitam-se as mãos
enquanto não sobem ao sopé
enquanto não apreciam
o quadro montado num pedestal
a proeminência da varanda alada
mesmo que dê o rosto aos ventos iracundos
e nela todo o frio imponderável
se faça resumir.
Não saberei
se o sabre delicodoce
se pode desembainhar pela imperial pose;
saberei
que de tal ufanar
se esvaecem as veias de sangue
e em frivolidades arcanas
tudo se decompõe.
A sorte do penhasco
não é a altivez;
não é a cumplicidade com o céu
ali mais junto das mãos
quase como se num pequeno salto
fosse dissolvida a diferença.
Não cuida,
o promontório,
de assustar os demónios com mitos seus
nem cuida,
outro tanto,
de renegar os mortais que se enfeitiçam
e dele querem exemplo.
Ele há tanta prece,
tanto milagre compósito
nos interstícios da desrazão,
que o sopé assim vistoso
não pode recusar o estatuto.
Agradeça à geografia
(ou a deus,
para os que assim quiserem)
o sortilégio da sua centrípeta e altiva
posição.