Combinados os verbos
só faltava a gravata a matar.
A rua estava à espera
e o espelho não o deixava desmentir:
tanto fulgor,
como podia alguém fazer de conta
que não notava a sua presença?
E, contudo,
foi tanto o exercício de si mesmo
à frente do espelho
poses solenes a perder de vista
ensaios diversos de pose matrioska
ângulos múltiplos sem encontrar defeito
em autocontemplação vagarosa,
que à hora de sair já era tarde.
Ao menos
o espelho reteve toda a grandiloquência.
Só não sabia,
no contorno do sono ardiloso,
que o espelho não fala com pessoas
e as pessoas não querem saber daquele espelho
(cada qual só toma atenção
ao seu privativo espelho).