Apregoam-se
predicados consentidos
como cães
fieis em fios de seda,
diuturnos.
Os castelos
sem estribo
montados
nas nuvens
sem peso
sem gordura
tácteis.
Nas fivelas
do tempo
componho música
sem estrofes
e ao sonho
vêm as álgebras miríficas
os subsídios
perenes
paredes texturadas
nas rugas das mãos
um olhar
poltrão;
pois a
noite demora-se
e os
corpos pedem água.
Apregoam-se
flores garridas
como gatos
investindo marradinhas,
ternurentos.
Na embocadura
do rio
onde as
traves se ajeitam contra os demónios
colhem-se
frutos maduros
e a boca
enche-se de proveito.
Desenganam-se
os virtuosos:
as impurezas
traduzem a perfeição
e os
corpos não capitulam
na seiva mélica
do amor.
Apregoam-se
rimas avulsas
os pássaros
ruidosos,
insistentes.
O rio ao
fundo
rumoreja
e as
pernas ávidas sentam-se
quando o
banco enferrujado pede companhia
e do peito
bolça a irreprimível bondade.
As pessoas
dizem:
“não sei,
não sei”
na certeza
mais segura que lhes sobe à boca
terçando
as armas
contra os
apoderados das firmezas.
Os cães
famintos erram nas ruas vindouras
em trote
apressado
contra os
endoidecidos vizinhos das ruas vazias
contra o
estio forçado.
E eu digo:
oxalá ainda
vamos a tempo
de apanhar
o tempo entre os dedos
sem desistir
das juras
sem legar
o peito às cicatrizes fundas
sem o
engodo das trevas
sem fantasmas
a adejar
esquartejando
as janelas abertas
sem posse
das coisas em sua inutilidade
sem letras
fartas e ininteligíveis.
Só conta
o abraço
dos corpos
o enlevo
da noite
a macieza
da pele adornada
o desejo
um beijo-conforto
émulo do
sono em sonhos invejáveis.
Apregoam-se
as fadas
quimeras sem
nome
e do mais
fundo do ser
levamos ao
fim do mundo
(se
preciso for)
a lava
profunda
a terra humedecida
com lágrimas
nutriente
da noite sem fim;
levamos
tudo de nós
e não
queremos nada em troca.