21.11.17

Gratuito

Apregoam-se predicados consentidos
como cães fieis em fios de seda,
diuturnos.
Os castelos sem estribo
montados nas nuvens
sem peso
sem gordura
tácteis.
Nas fivelas do tempo
componho música sem estrofes
e ao sonho vêm as álgebras miríficas
os subsídios perenes
paredes texturadas nas rugas das mãos
um olhar poltrão;
pois a noite demora-se
e os corpos pedem água.

Apregoam-se flores garridas
como gatos investindo marradinhas,
ternurentos.
Na embocadura do rio
onde as traves se ajeitam contra os demónios
colhem-se frutos maduros
e a boca enche-se de proveito.
Desenganam-se os virtuosos:
as impurezas traduzem a perfeição
e os corpos não capitulam
na seiva mélica do amor.

Apregoam-se rimas avulsas
os pássaros ruidosos,
insistentes.
O rio ao fundo
rumoreja
e as pernas ávidas sentam-se
quando o banco enferrujado pede companhia
e do peito bolça a irreprimível bondade.
As pessoas dizem:
“não sei, não sei”
na certeza mais segura que lhes sobe à boca
terçando as armas
contra os apoderados das firmezas.

Os cães famintos erram nas ruas vindouras
em trote apressado
contra os endoidecidos vizinhos das ruas vazias
contra o estio forçado.
E eu digo:
oxalá ainda vamos a tempo
de apanhar o tempo entre os dedos
sem desistir das juras
sem legar o peito às cicatrizes fundas
sem o engodo das trevas
sem fantasmas a adejar
esquartejando as janelas abertas
sem posse das coisas em sua inutilidade
sem letras fartas e ininteligíveis.

Só conta
o abraço dos corpos
o enlevo da noite
a macieza da pele adornada
o desejo
um beijo-conforto
émulo do sono em sonhos invejáveis.

Apregoam-se as fadas
quimeras sem nome
e do mais fundo do ser
levamos ao fim do mundo
(se preciso for)
a lava profunda
a terra humedecida com lágrimas
nutriente da noite sem fim;
levamos tudo de nós
e não queremos nada em troca.

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