28.11.17

Carne viva

O rendilhado da desrazão
orquestra o ocaso repetido
e as mãos frias
tremeluzentes
são o ópio de um rumor incessante.
Dizem o que dizem
astronautas pardacentos do desdizer
peritos no tresler
poltrões ascetas do simulado.
Não quero saber das portas abertas
nem dos atrevidos pescadores de almas
ou dos trovões desmedidos;
por entre as pútridas passagens
nos interstícios dos dias oprimidos
encontro o ouro entre os dedos secos
e deito-o no papel espraiado
no papel que devora
as palavras à boca de cena.
Não peço licença aos deuses
para ser quem sou.
Não trago trela em mim
que das peias congemino altercação
e gritos suficientes para as desmembrar.
Olho sobre o ombro da manhã
mesmo onde o nevoeiro embacia
e juro
contra as juras todas
canto, se preciso for
atiro o corpo desenfreado contra os mastins
no destorpor deslaçado das ferragens inertes.
Sei que às horas ímpares
chegam os murmúrios do vento
e eu retenho na funda alma
a sublime lição neles entranhada.

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