24.11.17

Perguntas às perguntas

Posso trazer na mão suada
a janela dos tresloucados?
Posso dizer não
aos engenheiros da coragem?
Posso ensinar
o leite azedo em lume brando?
Posso tirar do jogo
os reis e as rainhas?
Posso ir ao dia
no mais descarnado de mim?
Posso beber
à espera da estouvada madrugada?
Posso desaprender os pactos?
Posso alinhar as pedras frias
no rio sem margem?
Posso cantar os versos arrependidos
na miragem dos campos sem mapa?
Posso apenas verter no chão quente
as impróprias incógnitas?
Posso traduzi-las
em equações adormecidas
em portas sem número
em corpos desossados
em livros sem rosto
em dedos espontâneos
em cálices frágeis
em camas sem remorsos
em dias sem adiamento?

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