29.11.17

Bolinha vermelha no canto do ecrã

Ah, os zeladores da moral
heróis de gesta como só ela há!
Passeiam superioridade moral
honrando os demais com lições gratuitas
– para aprendermos
a ser gente de melhor jaez,
assim à sua medida.
Eu, anti-herói inato,
incorrigível dissidente de coisas destas,
confesso:
a maldade insubmissa;
as muitas drogas que consumo;
a promiscuidade irredutível;
o desamor que semeio;
os pobres que olimpicamente ignoro;
os animais que maltratei;
o hedonismo poltrão;
a ira sem remédio.
Daqui me ofereço
à lapidação dos arautos da bafienta moral
(moral pior do que a das sacristias,
por se esconder em sotaina canhestra)
em extático desejo de ser apedrejado
pelo deleite da antítese
da moral por eles sopesada.
(Não sou eu, mas podia sê-lo.
Sem aceitar os libelos
dos vigilantes desta,
ou de qualquer outra,
moral.)

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