O condimento do dia
efervesce na latitude pária
a combustão do gelo noturno.
Sem recusa
o peito grita sua dança
no risível jogo dos verbos arcanos
em remedeio da insanável fragilidade.
Se ao menos
a lua comparecesse
e os bardos se intimidassem,
os pássaros voariam à noite
contra as regras
e a monossilábica defenestração dos males.
Mas não havia a candeia necessária
e os almanaques não anunciavam lua;
em pé,
sobrava o sonho insubmisso
e os bandos cercavam as muralhas
como se fossem seus tutores.
Agora sabemos
que nidificamos numa gramática inverosímil
o espectro da nossa originalidade,
autenticidade sem preço.
Sob as ruínas conservadas
florescem lírios selvagens
e uma ninhada de gatos furtivos:
nesse caso,
alguém dizia,
pernoitamos sob a maré sem nome
e ajuizamos o nada em que se deita a noite.
Oxalá
fôssemos à margem da lei
e o riso iridescente apagasse as trevas
no penhor da fala sem gramática.
Somos
os medos que deixámos de ser.