Sentia o restolhar do granito
as botas
impiedosas
esmigalhavam o granito
à mercê de forasteiros.
A aspereza da paisagem
cortava a garganta,
ou seria da canícula
o sol extático a pino
vertendo a sua tórrida irradiação
sobre o corpo exsudado,
açoitado pelo sol.
As montanhas retalhavam a paisagem:
estava à mercê dos humores das montanhas
que a desenhavam
sem régua nem esquadro
apenas com a virtude do acaso.
Procurei as cumeadas:
queria apreciar os montes e vales
em sua sucessão interminável,
como se o infinito tivesse ali moradia,
os rios quase escondidos, em segredo
a voragem dos desfiladeiros
que, aqui e ali,
escarpavam a paisagem
como feitoria de um abismo.
Rareava,
a vegetação:
uns cardos de vez em quando
o tojo que só aparece nos altos territórios
a urze que definhava,
fora da estação
– a tertúlia para os prazeres
e o indeferimento da anamnese.
A cada miradouro
o corpo transbordava;
o ar com densidade
tornava a respiração um ónus
todavia aliviado pela tela
que compunha do olhar.
Às vezes,
uma ermida,
um cruzamento que desviaria das cumeadas
uma árvore tresmalhada
vestígios da fauna em sua escatológica prova
uma tímida nuvem arranhando o céu,
insuficiente para domar o sol irradiante.
Aproveitei para combinar juras
decerto desapalavradas à primeira oportunidade;
a fragilidade é um atributo
e as juras deviam ter recusa metódica
em vez de serem barco alistado.
Das cumeadas trouxe um dia ganho:
da osmose com a crueza dos elementos
fermentava a redescoberta.
Mergulha-se
na fragosidade dos elementos
no seu indomável perímetro
e é como se o corpo se banhasse neles
límpido e achado e desembaraçado
à espera das demandas em espera.