29.9.20

Jogo lameiro

O jogo sem calendário:

ausentes espíritos, 

como que almas desmaterializadas,

os contendores rivalizam

no amparo da sorte,

desdizendo capacidades,

entregues ao ópio do acaso.

 

Escondem o jogo:

viabilizam ardis,

na soez ufania dos ardis,

contabilizam os ganhos

no avesso dos rivais

desejam-se iracundos azares:

outra vez

sofismando a confissão das incapacidades.

 

O jogo não tem regras:

fazem-se e desafazem-se

no reto direito dos poderosos

os que por entorse 

a si chamam o império;

até que destronados sejam

por opoentes,

tão irrisoriamente fátuos quanto eles,

e tomem as rédeas das regras

só à espera que voltem a ser

morta letra.

 

O jogo inviável:

quem protestou a obrigatória demanda

a ferocidade dos passos artilhados

as armadilhas bajuladas

o imprestável sargaço deixado em restolho

a raça dos amestrados pela obnóxia descausa

impassíveis pela consumição do outro

por o outro 

não saber da inversão de estatutos

no passaporte escancarado à inumana interação

desarticulando-se

no vómito que os incinera pelas entranhas?

 

Para jogos destes

antes 

a apostasia do lúdico.

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