31.8.21

Planalto

Faço de meus pés

o planalto

onde estiola o mosto

que murmura versos

às veias incandescentes.

Desconverso a fala diuturna:

o remoço não começa

na haste fruída das flores colonizadas

mas nos baldios 

onde a liberdade se antecipa.

O planalto

deixo-o sozinho

a macerar a noite.

#2124

[Crónicas do vírus, DCXCVI]

 

Legados da peste (16):

está por demonstrar

se mantemos a cepa

ou se traduzimos a mudança.

30.8.21

Teoria geral dos fretes

Os comboios

trazem notícias

que são mais 

do que a soma do peso 

dos passageiros. 

Não são 

como os fretes nos cargueiros,

muito embora a especialização em fretes

seja uma constante nos compêndios

que nos atiram como lastro.

Já a tara dos comboios

arranja-se no lastro

que se compõe do peso dos passageiros. 

Os comboios

não se importam com fretes

e nem supõem

a taragem dos fretes

se pudessem saber das vidas que os habitam

transitoriamente. 

 

(Que é um eufemismo 

para o inferno são os outros

que não é lema ensinado 

aos comboios).

#2123

[Crónicas do vírus, DCXCV]

 

Legados da peste (15):

as miragens

nunca mais

vão ser iguais.

29.8.21

Congresso (partidário)

O regatear

deixou se ser nas feiras;

emigrou

para comícios

e congressos partidários.

O capataz modula a voz

comanda as emoções do séquito 

– confirmando 

que o séquito não passa de um séquito

ordeiramente obediente

cimentando uma pertença

à medida dos decibéis do palestrante

que usa a batuta desde o púlpito.

#2122

[Crónicas do vírus, DCXCIV]

 

Legados da peste (14):

os narizes assaltados

e não é por mistelas inaladas. 

28.8.21

Os hinos (e os hunos)

Os hinos

são

como papas

para tolos.

#2121

[Crónicas do vírus, DCXCIII]

 

Legados da peste (13):

um epitáfio

a preto e branco

e o silêncio arrumado

a contemplar.

27.8.21

Aguarela dinamite

O leito 

onde o rio se faz rio

entre falésias que antecipam a morte

e o doce ciciar dos corços. 

Uma pequena balsa 

desenha-se no rio

sem medo das fragas escondidas

arrumando o estio no orvalho ainda matinal. 

As vozes sobem os penedos

alimentam-se nas arestas que ferem

mas não se intimidam com o precipício. 

Onde não há afoiteza diante de contratempos

não há possibilidade de vida

nem o frémito da vontade. 

#2120

[Crónicas do vírus, DCXCII]

 

Legados da peste (12):

como azulejos estilhaçados

à procura de estuque.

26.8.21

Poema potencial

Por defeito

os palácios enganam os verbos

perdidas as algemas que eram seu

silêncio.

Na argamassa do mundo fátuo

alquimistas venerandos exibem

o elixir da quarta idade.

Os outros

desconfiam de tanta decadência

e perguntam

se podem perguntar

pelas perguntas que investem

a sabedoria.

Nas águas-furtadas,

a pátria do exílio voluntário,

o olhar perde-se onde a sepultura do rio

se mistura com o horizonte.

Poemas potenciais

iluminam a candidatura a vate,

por mais que essa não seja almejada

condição.

As janelas deixam entrar

o ar carregado de calor de agosto.

Maldita a hora 

em que ordenou a filiação das janelas:

os pensamentos adormeceram

sob as pálpebras contumazes

e já não sobram palavras para completar 

o poema potencial.

#2119

[Crónicas do vírus, DCXCI]

 

Há sempre

um ângulo morto

da ciência.

25.8.21

Puzzle

O presente é perfeito

e apresenta

o perfeito presente

no tempo cosmopolita

que é fusão 

de antanho e porvir. 

 

Corre a marginal

no parapeito do rio

e do sobranceiro patamar

a cidade em socalcos derrete-se

até ao caudal. 

 

É como 

se o pretérito se fundisse

no coevo

e no rio morasse 

o poço sem fundo

que desarmadilha o futuro. 

 

Até que

na irremediável, breve foz

todos os rostos se extinguem

e sobre apenas uma memória,

ela por sua vez 

perecível

assim que os sedimentos são levados

para o fundo mar.

#2118

[Crónicas do vírus, DCXC]

 

Legados da peste (11):

nunca as casas

foram tanto exílio.

24.8.21

Tecnologia

Arranquei a maldição

do meio do dia que estava. 

Outros arqueiam-se 

na superstição. 

Não digo

êxodo. 

Nem participo

com o meu corpo transido

na amálgama a que chamam

prazeres;

prefiro a enseada que se desenha

sob os poros que desinibem a respiração;

na moldura 

que se justapõe aos tempos contínuos

abraço os verbos repelidos:

nunca me achei capaz

de figurar no elenco

onde quase todos participam. 

Os vitrais animam a lucidez. 

Ecos distantes

convocam a pele destatuada. 

Não são os princípios que amparam um fim:

se soubesse com quantas candeias

se escreve o penhor

deixava-me estar sozinho

a um canto

para luzir o cenho descarregado,

o alvitre cheio de possibilidades

no mapa desarmadilhado de tempos erguidos. 

Entronco no grande bazar 

onde as vozes se reduzem ao murmúrio. 

Coroas sem marca 

marcam o cós do tempo. 

Ainda estou para saber

como se leem os versos famintos 

que correm no estuário desmaiado. 

Julgo 

que as palavras assim terçadas

explicam as águas termais do estuário.

#2117

[Crónicas do vírus, DCLXXXIX]

 

O rosto mau da política:

uma constante 

não interrompida pela peste.

23.8.21

Marítimo

As artes dispostas no estuário

esperam pelas mãos adestradas,

esperam que as suas rugas sejam lição

antes de serem oferendas ao mar. 

Os marinheiros admitem os mares a concurso. 

Conhecem-nos melhor 

do que as suas calejadas mãos;

é como se as mãos se deitassem aos mares

em metafórico alisar das ondas,

as mãos domadoras

dos mares que conduzem a embarcação. 

Do mar alto

contam-se lendas avulsas e muitas:

diz-se

que quanto mais as rugas são ornato das mãos,

mais os mares se inclinam 

aos vetustos marinheiros que os somam 

sem saberem. 

Os mares só gostam de levar ao seu magma

vidas se forem ainda tenras.

#2116

[Crónicas do vírus, DCLXXXVIII]

 

Legados da peste (10):

as impossibilidades

convivem numa fronteira sem limite. 

22.8.21

#2115

[Crónicas do vírus, DCLXXXVII]

 

Amoral da História:

a História

não tem mural.

21.8.21

Bala #11

O desmentido implícito

cimenta a mentira

contra o jugo dos hinos

que a desmentem

no leito da narrativa oficial

que deixa em banho-maria

os cínicos que o não sabem ser.

 

São estes os mantimentos

que advertem contra fantasmas 

que apenas são fantasmas.

 

As palavras são uma tibieza

quando fingem as mentiras que são.

#2114

[Crónicas do vírus, DCLXXXVI]

 

Legados da peste (9):

fomos portadores

de um futuro essencial.

20.8.21

#2113

[Crónicas do vírus, DCLXXXV]

 

A menos que surtam

inesperadas marchas-atrás

só falta saber

quando é o grito do Ipiranga.

#2112

[Crónicas do vírus, DCLXXXIV]

 

Legados da peste (8):

muito sangue

a ser combustível

da História do futuro. 

19.8.21

As ruas sem nome

As ruas estilhaçam o sol tardio. 

Amparadas na desesperança

as pessoas avançam contra o dia soturno. 

Não esperam por nada. 

Caladas

esgotam o chão parado

onde esperam pelo autocarro

antes que seja dia de trabalho

 

(antes 

que seja a vez 

de a rotina ter voz).

 

Se fosse pela noite marítima

crepuscular

impávida se iluminada pelo farol da barra

as mentiras escondiam-se de si mesmas. 

Antes fosse um lugar preso ao mar

sem as amarras da terra. 

Antes fossem as horas 

o ponto cardeal vertiginoso

a faca madura que raspa todas as cicatrizes

deixando o mapa sem arestas. 

Noturna-se a fala

no vértice diametral do medo. 

As horas não são uma vertigem:

vagarosas

parecem arrastar o passado

colonizando todo o tempo

que as mãos conhecem.

#2111

[Crónicas do vírus, DCLXXXIII]

 

Legados da peste (7):

as bolas de cristal

a perquirir 

sobre a morfologia da peste.

18.8.21

Rua Sésamo (pois que sésamo os petizes ainda podem saborear)

Saí em fiança

discípulo de parte incerta

que de minha culpa não considerei

o paradeiro. 

Se fosse a forca o pedestal correto 

– diz-se, em dedução pouco convincente – 

o sino da obediência seria um lugar de paz

e a desordem apenas um avatar

para futura memória. 

Mas em fiança

alcatifei uma recusa metódica

e do alçapão das proibições fui exilado,

antes que,

derrotado pela vergonha do que seria,

não fosse se não 

desarmado capataz por inércia. 

Por isso não foi exorbitante

o preço da fiança;

o exercício da liberdade

não tolera a letargia

e o consentimento tácito é a tuneladora

que enterra

e de vez

a maré caudalosa de onde se extraem

os direitos de quem se considera um ser,

um ser de corpo e alma inteiros,

que não capitulam na arena

dos ardilosos regentes.

#2110

[Crónicas do vírus, DCLXXXII]

 

Legados da peste (6):

o abismo maior

entre acríticos obedientes

e lunáticos cercados por conspirações.

17.8.21

Da antipatia com Narciso

A celebridade confessou

com jactância e comoção:

“eu gosto que os outros gostem de mim”.

 

Eu cá prefiro 

que os outros

não saibam do meu paradeiro.

#2109

[Crónicas do vírus, DCLXXXI]

 

Legados da peste (5):

o penoso inventário

dos danos imateriais.

16.8.21

Perífrase

Sem a trincheira

evapora-se o cais sem medo. 

Seguem-se 

os remédios banais

à espera que amanhã seja

apenas

uma repetição. 

Não se diga do sarcasmo

que bolça as suas vítimas;

somos nós

procuradores da imprudência

que jogamos o trunfo 

a nosso desfavor. 

Por isso

não contamos catedrais;

só contamos

as pedras em que caímos.

#2108

[Crónicas do vírus, DCLXXX]

 

Legados da peste (4):

uma anestesia

com efeitos duradouros?

15.8.21

Sintoma

A partida

é do avesso do cais

onde a fuligem decai

e as palavras se tornam verbos.

 

Viajo

nas varandas de um corcel

entre a neve vertida na planície

e a promessa que ferve no sangue.

 

A chegada

é num lugar sem paradeiro

onde a boca encontra consulta

e a fala se agiganta no silêncio.

#2107

[Crónicas do vírus, DCLXXIX]

 

Uns mastins

desdentados de lucidez

a fingirem 

a conspiração da peste.

14.8.21

#2106

[Crónicas do vírus, DCLXXVIII]

 

Uma profecia do apocalipse 

– ou o apocalipse dos oráculos.

13.8.21

Patrão na costa

O deslumbramento

no copo vazio da obviedade

rima

a meias

com a finura das prosápias

das sumidades que embelezam

a pública praça. 

O púlpito a eles,

ó meãos súbditos que andais a leste,

que precisais de guias gratuitos. 

Ato contínuo

não esqueçais a imperativa genuflexão

que a gratidão é virtude que se não inflaciona 

e os gurus não estão ao serviço

apenas para de seus corpos sentirem

do calor uma irradiação. 

Não vos canseis do bom conselho,

ávidos que estais de recomendáveis bússolas,

para que possais emprestar um seguimento

ao vosso devir. 

#2105

[Crónicas do vírus, DCLXXVII]

 

Haverá sempre 

teorias da conspiração

e os autores das teorias da conspiração.

12.8.21

A fidelidade pode ser baixa?

Alta fidelidade.

Alta.

Fidelidade.

Fidelidade alta.

 

(Ou fidelidade em alta

se houvesse páginas

para retalhar.)

 

E baixa fidelidade,

também se engaça?

E a

fidelidade baixa

é possível arrematar?

 

(Se houvesse tempo

para perguntar ao tempo

e se os praticantes da semiótica 

– e os totens das almas 

estilhaçadas pelo desamor – 

não estivessem de férias.)

#2104

[Crónicas do vírus, DCLXXVI]

 

Legados da peste (3):

a consciência

da nossa imensa

fragilidade.

11.8.21

MNE

Nunca souber dizer

por que o ministro dos negócios estrangeiros

é ministro

dos negócios estrangeiros. 

Se a diplomacia não é 

se não

uma pedra no sapato dos negócios

e se os negócios 

(no estrangeiro ou fora dele)

transbordam a diplomacia,

continuo sem saber

se o ministro dos negócios estrangeiros

não é apenas

o ministro do fingimento

o ministro que terça a hipocrisia

entre as nações

o ministro que disfarça ressentimentos

atrás do biombo da semântica

o ministro da propaganda das virtudes pátrias

o ministro cuidador das dores de alma.

Um ministro

oximoro.

#2103

[Crónicas do vírus, DCLXXV]

 

Legados da peste (2):

dois passaportes,

pois as fronteiras

passaram a ser internas.

10.8.21

Sobre a inutilidade das memórias

Não sou de escrever as memórias.

Não sei descrever as memórias.

Não sei do paradeiro do passado. 

Mas sei-me presente

no tempo que é presente,

a menos que o fingimento

seja a luva que cobre a minha mão.

Não olho nos interstícios do devir. 

Não sei calcular o tempo

que não conheço. 

Não sei quantas sílabas tem o amanhã

ou se vem tingido e de que cor. 

Não sei da linhagem dos versos

que notificam o futuro. 

Não saberia 

sequer

imaginar as memórias do porvir

por mais mnemónicas que calhasse na maré. 

Espero em espera

com a paciência desembainhada

recebendo com hospitalidade

a silhueta do tempo andante. 

As memórias

são a confirmação 

de uma ausência. 

#2102

[Crónicas do vírus, DCLXXIV]

 

Da violência como cerco

poucas teriam sido 

as palavras terçadas.

9.8.21

Pirotecnia

Escrevo as escadas

com as minhas mãos

vertendo as palavras carisma

no ato não doloso da confiança. 

Vejo nas escadas

o que o horizonte esconde

e dos meus dedos sobressaem

as flores que mobilizam o magma

no estio que não dói

na dor que se veste do avesso

até que das escadas cimeiras

proclame 

a minha intensa dissidência.

#2101

[Crónicas do vírus, DCLXXIII]

 

Legados da peste (1):

certificados,

como o gado.

8.8.21

Conceptualização

A prateleira

não é onde se posterga

o passado.

A prateleira

é onde se tirocina

o futuro.

#2100

[Crónicas do vírus, DCLXXII]

 

O consentimento

quase a ser devolvido

aos seus tutores.

7.8.21

Graduação

O que se penhora

nas dádivas que confiam 

nos eremitas impensáveis?

 

A geografia da alma

não aprende com o caudal matinal. 

Se em vez de um idioma sem voz

falasse por palavras brancas

podia tomar em mãos o dicionário

e fazia com que o dia fosse pecúlio. 

 

Sei que o aluvião arroteia o rosto cansado:

o entardecer arruma as impurezas

e os olhos ensinam a lucidez

que não se aprende nos manuais. 

As flores atiram-se contra a maré alta. 

Transigem com os nós de espuma

que a nortada ensaia,

enquanto as peças do puzzle se insubordinam

na levedura da noite. 

 

No tribunal do esquecimento

traduzo as cicatrizes da alma

(as minhas,

que as dos outros me são desconhecidas).

O céu entediado

responde com o acobreado que pressagia

o crepúsculo. 

 

Por dentro do torpor,

o olhar diluído no horizonte,

ouço o magma que crepita

nas profundezas. 

Pergunto

se sou eu

o compositor do devir

ou se me devo cingir

à resplandecente indiferença. 

 

À minha volta

um cerco de palavras

desarruma a gramática. 

Tomo por fundo

a aviltante grandeza ostentada fora de mim

o astucioso desfazer de armas

em que sou pária. 

Se soubesse costurar a desfala

atirava as fotografias havidas

para o panteão das desmemórias. 

 

À falta de melhor

conto as páginas

do calendário.

#2099

[Crónicas do vírus, DCLXXI]

 

A renúncia,

em vias de extinção.

6.8.21

#2098

[Crónicas do vírus, DCLXX]

 

Desafinados ainda,

os violinos 

resgatados do bolor

do crepúsculo demorado.

5.8.21

Copo meio cheio

Não era a página que rasurava;

era o vértice das palavras

que em si eram vertidas

o lamento fraco na dobra da folha

em juras 

que não remediavam o despassado.

 

Conseguia beber o vinho à prova

de um trago só;

não aproveitava o verbo pueril

que ele desconhece esse verniz.

Em vez de uma tardia censura

traduzi os remorsos 

através das vírgulas que depunham

a meu favor:

eram repetidos os clamores

mas não tinha a feição dos seus penhores

não conseguia deles fazer inventário.

 

À margem,

como em laterais rodapés,

perseguia a franqueza que se escondia

do rosto da página.

Será que diria:

oxalá estivessem a consulta pública

os rodapés laterais 

que se escondem

sob minha custódia?

#2097

[Crónicas do vírus, DCLXIX]

 

Está em falta o armistício

para a letargia da peste.

4.8.21

Biombo

Que diremos do mel

se a boca da abelha

é um leito de morte?

 

O beijo do escorpião

não precisa

do escorpião.

#2096

[Crónicas do vírus, DCLXVIII]

 

A peste

prestes a ser arrumada

no quarto dos fundos.

3.8.21

Descavilhado

Serpenteia o rio

cavando as encostas. 

Ninguém diga

que amestrada é a paisagem;

é feita de convulsões sucessivas

como se a alvorada tivesse sido corrompida

por deuses anónimos,

deuses impreparados na arte cénica do belo

deuses párias 

que se esgotaram na emblemática

sopa servida aos de espírito desavençado. 

Prostrado por tanta paisagem fidalga

sinto o corpo transido

e ele próprio

desamestrado.

#2095

[Crónicas do vírus, DCLXVII]

 

(Variante do #2094)

 

Dos biombos

o espólio do futuro.

#2094

[Crónicas do vírus, DCLXVI]

 

Dos biombos

não se consumirá

a saudade.

2.8.21

#2093

[Crónicas do vírus, DCLXV]

 

É comovente

o esforço de muitos

(donos de espaços dançantes)

para salvar o Verão.

Não consta

que o Verão tenha pedido

para ser salvo.

1.8.21

Ferro fundido

Procuro a minha ausência

nesta casa fortuita

onde o arco-íris se depõe. 

Procuro

a ausência que de mim medra

nos contrafortes da cordilheira setentrional

enquanto instruo os olhos 

na omissão. 

Procuro

o que da minha ausência

sobra de mim. 

Pode ser que seja de mim

a foz que se promete

ao mar de fundo.

#2092

[Crónicas do vírus, DCLXIV]

 

Prometido:

um bilhete

para a salvação.