19.8.21

As ruas sem nome

As ruas estilhaçam o sol tardio. 

Amparadas na desesperança

as pessoas avançam contra o dia soturno. 

Não esperam por nada. 

Caladas

esgotam o chão parado

onde esperam pelo autocarro

antes que seja dia de trabalho

 

(antes 

que seja a vez 

de a rotina ter voz).

 

Se fosse pela noite marítima

crepuscular

impávida se iluminada pelo farol da barra

as mentiras escondiam-se de si mesmas. 

Antes fosse um lugar preso ao mar

sem as amarras da terra. 

Antes fossem as horas 

o ponto cardeal vertiginoso

a faca madura que raspa todas as cicatrizes

deixando o mapa sem arestas. 

Noturna-se a fala

no vértice diametral do medo. 

As horas não são uma vertigem:

vagarosas

parecem arrastar o passado

colonizando todo o tempo

que as mãos conhecem.

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