7.8.21

Graduação

O que se penhora

nas dádivas que confiam 

nos eremitas impensáveis?

 

A geografia da alma

não aprende com o caudal matinal. 

Se em vez de um idioma sem voz

falasse por palavras brancas

podia tomar em mãos o dicionário

e fazia com que o dia fosse pecúlio. 

 

Sei que o aluvião arroteia o rosto cansado:

o entardecer arruma as impurezas

e os olhos ensinam a lucidez

que não se aprende nos manuais. 

As flores atiram-se contra a maré alta. 

Transigem com os nós de espuma

que a nortada ensaia,

enquanto as peças do puzzle se insubordinam

na levedura da noite. 

 

No tribunal do esquecimento

traduzo as cicatrizes da alma

(as minhas,

que as dos outros me são desconhecidas).

O céu entediado

responde com o acobreado que pressagia

o crepúsculo. 

 

Por dentro do torpor,

o olhar diluído no horizonte,

ouço o magma que crepita

nas profundezas. 

Pergunto

se sou eu

o compositor do devir

ou se me devo cingir

à resplandecente indiferença. 

 

À minha volta

um cerco de palavras

desarruma a gramática. 

Tomo por fundo

a aviltante grandeza ostentada fora de mim

o astucioso desfazer de armas

em que sou pária. 

Se soubesse costurar a desfala

atirava as fotografias havidas

para o panteão das desmemórias. 

 

À falta de melhor

conto as páginas

do calendário.

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