15.9.22

Acerto de contas

Se ao menos

hoje

houvesse um vulcão ativo

só para cobrir os olhos

com a cinza.

Se ao menos

do sangue vívido fruíssem

peixes 

– eu lá sei se peixes – 

e um detonador ressuscitasse o zero

e desse zero subissem montanhas 

o punho irado a remexer o céu

e dele, 

indisposto,

um vulcão do avesso

bolçasse a sua lava amoedada.

Hoje

só hoje

até que a fratura dos dias

dissesse

em murmúrio sortílego

que as migalhas do medo

não contam para o PIB

nem as realezas defuntas

passam das páginas amarelecidas

em que se sepultam.

Do pé do precipício

com paisagem improvável a beijar os olhos

sacudimos as cinzas que os embotaram

e de alma lavada

as mãos tingindo o céu com uma cor despoluída

dizemos o que dantes não foi dito

e dançamos

– ah! sim, dançamos! – 

para povoar o sangue com a História do futuro.

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