Se ao menos
hoje
houvesse um vulcão ativo
só para cobrir os olhos
com a cinza.
Se ao menos
do sangue vívido fruíssem
peixes
– eu lá sei se peixes –
e um detonador ressuscitasse o zero
e desse zero subissem montanhas
o punho irado a remexer o céu
e dele,
indisposto,
um vulcão do avesso
bolçasse a sua lava amoedada.
Hoje
só hoje
até que a fratura dos dias
dissesse
em murmúrio sortílego
que as migalhas do medo
não contam para o PIB
nem as realezas defuntas
passam das páginas amarelecidas
em que se sepultam.
Do pé do precipício
com paisagem improvável a beijar os olhos
sacudimos as cinzas que os embotaram
e de alma lavada
as mãos tingindo o céu com uma cor despoluída
dizemos o que dantes não foi dito
e dançamos
– ah! sim, dançamos! –
para povoar o sangue com a História do futuro.
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