Um
charuto gordo.
Um
espirro sonoro.
A
voz bem colocada.
A
foice da justiça.
Os
pés (enfim) calçados.
Sem
chapéu, nem véu.
Tosse
(também) bem colocada.
Pose
grave, senatorial.
A
verdade, incontestável.
Os
olhos que não suam.
As
mãos limpas.
A
ausência de pecadilhos.
Um
ror de virtudes.
Um
exemplo a seguir.
O
vinho francês, de reserva.
Os
livros educacionais.
As
frases contundentes.
O
peixe gordo.
A
verve iluminada.
Os
categóricos imperativos.
A
impossibilidade de divergência.
Porque
a razão e a verdade são.
Os
atilhos bem apertados.
O
degredo ao potestativo contraditório.
As
flores amarelas (que só podem ser amarelas).
A
estrada sem curvas.
A
leitura acrítica.
Os
gurus do pensamento.
As
estações do tempo no seu lugar.
O
amigo dos pobres.
O
fautor das equidades.
Dois
dedos de conversa com a maré.
Os
óculos desembaciados.
As
botas acintosas.
A
custódia da verdade (outra vez).
Um
piano afinado.
As
manhãs sopradas pelo vento lúcido.
As
frases com sentido.
Os
ardis empacotados.
As
mãos largas.
E
o dinheiro,
que
há de vir de algures.
Mais
uma horda bem-comportada.
Agradecida.
Penhorada.
Aos
artífices das equidades todas:
exigível
homenagem.
Sem
dissidências admitidas.
Não
sob pena de cárcere
(que
seria mau para os pergaminhos).
Mas
sob pena de dedo apontado.
(O
que pode ser ainda pior.)