Da vastidão do pensamento
albergo orações sem deus dedicando
colho as ramificações dos caudais céleres
abraço uma miríade de olhos sequiosos.
Devolvo o de mim ao que me ronda,
próximo ou distante,
não interessa,
no sargaço que rumina as ruínas sem norte
sabendo da impureza das palavras
(por isso nunca definitivas).
Dou por mim banhado nas flores da buganvília
colhidas como deve ser
por camponesas diligentes,
antes de beber do cálice do entardecer
o vinho sublime que disfarça a idade.
Tomo nota,
num papel envelhecido,
das contas que rumorejam no pensamento:
arrumados os cálculos,
e passada a pente fino a contraprova,
contracenam os números fidalgos
no rescaldo do saldo positivo.
E sei,
em sina que se desemaranha das nuvens hirsutas,
que a talha dos que porfiam
em demorada paciência
os cobre de ouro puro.