O cobrador de promessas
amanheceu irado.
Tivera maus sonhos:
deixara de haver gente madraça
no respeito das promessas próprias.
Sabia.
de ciência certa,
da impossibilidade das pessoas,
das pessoas todas,
serem diligentes
no deve e haver das promessas.
Mesmo assim
o cobrador de promessas
estava com o coração a mil à hora
um aperto interior
que quase tirava a respiração.
O cobrador de promessas
continuava sem entender o temor:
não era preciso estudos
ou ser cientista com nitidez de análise
para extorquir aos autos da espécie
a mitomania sem remédio.
Pois se os da espécie
eram dignos
da mentira que sobre os próprios se abate,
que abutres julgaria o cobrador de promessas
estarem de atalaia ao seu alpendre?
Confessou
aos seus próprios fantasmas:
receava que a espécie tivesse uma epifania
e de repente,
sem exceção,
perdesse as rédeas da mentira
e acautelasse todas as promessas
com selo notarial;
temia
o cobrador de promessas
que a demissão rimasse
com a redenção da espécie.
O que o cobrador de promessas
não quis ver
é que as promessas só podem ser cobradas
por quem delas é autor.
Afinal
foi ao cobrador de promessas
que se deu um assalto dos vultos interiores,
os máximos julgadores das intenções,
das ações
e das omissões.
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