24.7.16

Tórrido

O jacarandá frondoso
hasteia a sombra
a dileta pele segunda que aplaca
o estio metido pelos poros.
Assobiariam andorinhas rampantes
não fosse o forno aberto a meio do dia.
As pessoas arrastam os corpos
pelas veredas vagarosas do dia.
Pedem aos jacarandás
que intercedam nas divindades
que aferroam o tempo que faz
– por acreditarem nos poderes dos jacarandás
por suplicarem a ajuda das divindades,
ou deve ser por as credenciarem.
Se olhassem
para o mercúrio de um termómetro
ser-lhes-ia levado ao entendimento
que não há divindades com dedo na meteorologia
não há intercessão das árvores inertes
nem porventura chegam às divindades
a não ser por projeção da incapacidade 
dos homens.
É neste estado
(de liquefação dos corpos e do resto)
que o esteta empoleirado no arco de granítico
proclama:
abriguem-se sob os jacarandás
se querem que o calor derreta o seu bastão.
E bebam
de tudo o que for possível
álcool de preferência
que, num ápice,
arrefecem em hibernação.

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