Em papiro à
prova do tempo
escrita a carta
de todas as cartas
o tremendo
testemunho para memória futura
em linhas desenhadas
a ouro
por entre intempéries
frígidas
e searas
mostrando a pele dura.
O papel deitado
ao acaso
voando entre os
ventos balizados
ancorado num
arbusto seco,
ou errando entre
as árvores sem dono
não se sabe se
procurando destino
não se sabe se tomada
por mãos algumas
que leia suas resoluções.
Datada
a carta
tremendamente intempestiva
aluvião de
segredos,
segredos a que
se pode chamar segredos,
nunca por outros
sabidos,
composição
inquieta dos calendários
vindouros,
tabulando o pretérito
de que se quer rasto:
favores rogados a
outros
sem saber se os
outros
à hora do
deslacrar do papiro
taliões da
vontade outra serão.
O papiro perfaz
a viagem sem rumo
aterra num campo
cheio de flores
a ser consumido
pelo fogo.
A carta não tem
vontade
nem pode a sua errância
ajuizar vontade alguma:
ao deus-dará
abrindo-se de
seu lacre
ao ser beijada pelos
iniciais lampejos do fogo,
extingue-se,
incensada.
Não se soube
se precedeu a
extinção do autor seu.
As cinzas
pereceram na fértil colheita do fogo
e nem as letras desenhadas
nas linhas a ouro
ficaram para memória
futura.
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