21.7.16

Mãos arcaicas

As mãos cansadas ditam o suor
em erupções convulsivas.
As mãos debatem-se em suas rugas
são o espelho de um navio decadente
ocaso que espera pelo tempo devido.
As mãos velhas
protegem-se das arestas vivas
da convivência com as cinzas depostas
nos canteiros vazios.
Vulcões incandescentes
que degelam glaciares inteiros,
fogos ininterruptos que derrotam o torpor.
As mãos servis
abraçam a árvore centrípeta
cingem-se à cintura fina que espera
um abraço demorado
ou um beijo que levite.
As mãos com as rugas todas
são um mapa gasto na lassidão do papel
uma voz gutural e, todavia, em surdina
o plástico tornear das marés vivas
que teimam em adulterar as cores vivazes.
Mãos destas
em serena coreografia das palavras vitais
congraçam o desgaste do tempo.
Mãos cansadas e enrugadas
apaziguam o temor pelo tempo exíguo.
Colhem o sal do tempo
e transfiguram-no em casas sadias
retemperadoras
templos soalheiros à espera de quimeras.
E o mar todo
refugiado nas palmas das mãos.

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