Dei uma volta no
paraíso
por onde há
nuvens amorfas
e émulos de
bailarinas a dormir,
artistas emudecidos
e palradores
emasculados,
paisagens
acetinadas
e vinhos dignos
dos deuses,
praias sem areia
e framboesas
sempre maduras,
e jurei que
seria uma bandeira desaforada.
Todavia
era um sonho
apenas um sonho.
Imaterial.
Ao contrário dos
guerreiros
a quem prometem setenta
e sete virgens
não chamo a mim
sonhos de tanta abundância
(nem acredito
que haja delícia nessas delícias).
Dei uma volta no
paraíso
ou talvez apenas
nos escombros de
um convento clandestino
onde se aposta
em jogos de casino
(ilegais)
por entre a
densa nuvem de tabaco.
Julgavam alguns
ser um paraíso
– como paraíso
podia ser um restaurante gourmet
uma espingarda
avariada
o dente de leão
amigo
o simulacro de
um harém
um poema cozido
com perfume de flores.
Desfiz a volta
ao paraíso.
Desfiz a desonra
promitente dos sonhos.
Embarquei no
navio novo
onde só
pontuavam marinheiros diligentes
ascetas da
sabedoria que importa.
Os marinheiros
eram unânimes:
atiravam o dedo
para o firmamento
enquanto formulavam
a demanda:
“quem acredita num
paraíso?”
ou, em sua
reformulação:
“para que serve
um paraíso?”
Era uma pergunta
retórica.
Emudeci
em sinal de não
resposta
logo entendida
pelos marinheiros
como dupla
negativa em resposta.
Quando desembarquei
senti um odor fétido
a subir das
entranhas do cais
desde as águas
paradas
onde o novo navio
estava fundeado.
Não haveria prova
melhor
da inexistência do
paraíso.
(Mas sempre
podiam reclamar
em defesa do
paraíso
– ou dos paraísos
que interessassem –
que os
marinheiros fizeram batota
com as águas do
cais.)
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