25.7.16

Poetiza-me

Agarra-me o braço quente
prende-o à volta dos beijos carnudos
diz-me que serei teu lobo feroz
nas praias sem areia
nas luas que desembaciam o entardecer
com as mãos trémulas no espaço sem céu
com os dedos marcando a tinta rija o corpo
sem temor
sem apressamentos
sem capitular se não nas desregras que ditamos.

Eleva o braço quente
como se fosse tomar conta do sol
e dele bebesse a seiva toda
num profundo caule fervente sem modéstia
no arpejar contumaz que estilhaça as ameias
compondo estrofes ilhéus no corpo sedento
coreografando as pernas entrelaçadas
num vulcão desassisado
num sobressalto perfeito
num êxtase compassado.
                   
Toma o meu braço quente
os alinhavos de uma perfumada flor
diadema incrustado com pedras preciosas
pomar frondejante que asperge algidez
em contraponto com a febre sem esteios
dos corpos indomáveis em bafos desaustinados
em volteios mareados na mesa desemparelhada
sem temor
sem remorso
sem as traves amuradas dos tiranos.

E o meu braço quente em formidável torrente
em teu leito arregaçado recebido
justaposto à pele incensada tua
no apogeu soalheiro sucedâneo de levitação
antes do seu ocaso temporário
antes de guerreiro terçar as balsas do desejo
antes de reacender as candeias da estratosfera
sem se render
sem medrar na decadência
sem recusar a entrega próxima.

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