1.7.16

Os cães e o veleiro

O veleiro adormeceu nas dunas
talvez
imagem de provecta idade
talvez
em sinal de falta de destreza
de marinheiros amadores
talvez
por ação de um mar adulterado.
O mastro caído no areal,
à mercê de uma matilha de cães
farejando o objeto estranho,
simula-se objeto inanimado.
A lídima inutilidade
à mercê da maresia sem misericórdia.
Os cães afastam-se do mastro
(assustados)
com um pulo para trás,
esboçam pose desconfiada.
Não
não é um objeto desconhecido
ou vestígio extraterrestre;
talvez o seja
(uma coisa ou a outra
ou as duas por junto)
para os cães que passeiam sua
vadiagem.
Para o que conta
o veleiro,
outrora miragem da ostentação,
sonho impossível dos remediados,
é tão vadio
como os vadios cães.
Prova-o a mija sobranceira
atestada no casco
por um dos da matilha.
O que prova
também
a inutilidade dos cemitérios.

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