Não atiro a pedra.
O lago sem ondas
é retrato preferível.
Os nenúfares
não precisam de naufragar.
Os cisnes
estão imersos em seu sono.
O silêncio
é uma ilha valedoura.
Não escolho a ira.
A penumbra está gasta
sem consulta.
À noite prometi
o ouro do consolo.
Da pele
conservo a alvura.
Retenho
as palavras sem arestas.
Não transbordo os remorsos.
A culpa extinta
adormece no dorso da memória.
Não tenho
vultos em espera de exorcismo.
Às sombras contumazes
arremato existência.
Às águas malsãs
ergo dique.
Desenho a manhã
no púlpito das mãos.
As palavras segredadas
são a combustão do enredo.
Aos olhos férteis
a convocatória da reinvenção.
No silêncio profundo
as palavras adivinhadas.
Desço ao chão
da maré enxuta.
Combino estrofes
no parapeito da maresia.
Murmuro o amor
no corpo tremeluzente.
Esqueço
o devir por selar.
Sou penhor
do refúgio da alma.
Não me escondo
da felicidade.
No suor trespassado
construo a cidade esperada.
Com a docilidade
das palavras sussurradas.
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