18.9.18

Moinhos

Estes moinhos
o ventre da paisagem.
Por onde
o vento se desenha
na curvatura da manhã.
O lugarejo
imensa fortificação
concebe os limites da caução.
Os moinhos
emprestam-se à paisagem
na contrafação desejada.
Penhorada a origem
sobra o chão alcatifado 
com a pedra dura.
Nada fica ao acaso.
Junta-se o rebanho
o cão que o apascenta
e o pastor distraído.
O pastor que se encanta
por mais que sejam as vezes
no rebordo dos moinhos.
As pás vagarosas
tiram talhadas ao vento.
Sente-se o murmúrio
a voz acastanhada das fazendas
no arritmado pulsar dos moinhos. 
Num moinho
alguém contaminou a obra: 

“goste-se ou não
a aldeia inteira 
vigia os forasteiros
para gáudio dos nativos.”

Sinais dos tempos
ou apenas o poema 
fremindo o carmim das palavras
na metáfora
que costura a contracapa da má profecia?

Os moinhos
indiferentes
estugam o compromisso com a paisagem.
Ela não seria a mesma
se cerceassem os moinhos pela raiz.

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