24.9.18

Manifesto contra a eternidade

Que importa a eternidade
a cápsula sem vidro
o vento irredentista
um oráculo que não sabe ler?

Quem se importa com a eternidade
se a finitude a desengana
e nem como legado
(mesmo fora das convenções)
somos imprescritíveis?

A quem importa a eternidade
no bálsamo fugaz das luzes fátuas
na verborreia flácida dos desmentidos
na volúvel fachada de catedrais por fazer?

Onde não está a eternidade
se não nos lugares inteiros
nos corpos sem exceção
no embelezamento dos dias por porfiar
nos segredos que se guardam
na parede fria e cada vez mais gasta
das veias por dentro?

Denuncie-se a eternidade
o logro batismal
o colóquio sem verbo
o ajanotado jardim sem rega
a deletéria força que tudo exaure.

Quem quer a eternidade
se o tempo a confirmasse
e deixasse de ter validade
por excesso de existência?

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