Embraio o medo
antes que venha a noite feérica
e os demónios tenham nela
sua madrugada altiva.
Nos cotovelos da chuva
tomo o avesso da poesia
e vejo como as quedas de água,
no catavento da primavera,
são a melodia sem reticências
o reparo não acintoso
dos equívocos que lobrigam nos outros.
Embraio o medo
sentindo o corta-vento na sua função
e sem o rosto álgido
tomo-me
por comandante de um navio sem matrícula
que sulca mares sem marinheiros
em vez de ruas apinhadas.
Sem o medo embraiado
meto a velocidade máxima ao chegar à enseada
e aos olhos famintos vem
o ocaso bucólico
o mantimento sublime que despoja fronteiras
a cabine aveludada onde se consuma o amor.
Já não preciso de dicionários
para converter em verbo capaz
as estrofes demenciais que pareciam
cães vadios fugindo de donos que não tiveram.
Agora
eu sou meu próprio dicionário.
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