Às vezes, penso:
gostava de ser um jacarandá.
às vezes, sonho:
gostava de ser um jacarandá
no auge da fruição florida.
Gostava.
Penso
que sonhar não é danoso
e sonho
que pensar não é armadilha.
O jacarandá que eu gostava de ser
em soprando os sonhos disfarçados de pensamento
não tem o sonho de se tornar eu.
O jacarandá
embebido em seu profundo sonho matricial
não pensa o mesmo pensamento meu.
Talvez não consiga ser ojacarandá
mas ainda meto as costuras
na hipótese de ser comoo jacarandá
em sua florida fruição.
Ouço os violinos disfarçados de sonho
e os verbos que lhe dão corpo
em pensamentos ecoados na bruma tardia:
o jacarandá despido mostra o inverno
e eu só sonho
em pensamentos erráticos
com o seu primaveril estado.
Anoto a traição do pensamento ao sonho
(ou será o contrário?).
Anoto.
E sei que das minhas mãos
erguem-se pétalas azuladas
que em sonhos inclassificáveis
a mim vieram como dádiva do jacarandá escolhido.
Sei que das minhas mãos
o pensamento reescreve-se em sonhos
(ou será o contrário?)
E a matéria final
não será o cais
apenas um apeadeiro
a porta da partida para a viagem seguinte.
À frente,
haverá outro jacarandá à espera de flores;
à espera dos meus sonhos
corporizados pensamento.
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