Diziam
que as ruas estavam atapetadas
pela bonomia indiscutível
e os pressupostos enraizados
estilhaçaram-se num rumor demorado.
Diziam
que as manhãs eram o ubere fértil
onde a pele falava com as divindades
e os verbos estéticos eram devolvidos
em paga.
Não diziam
a aprazada maledicência
a tirania do fingimento
as máscaras em vez de rostos
a militância dos mastins que ferram o osso
exaurindo a carne potencial.
Diziam
em vez disso
que se podia esperar pelo amanhã
sem medo de ter medo
no xadrez não gasto da vontade
a favor da maré
que sussurrava na sombra da maresia.
Diziam
categoricamente
as estrofes arrancadas das flores
à medida que o anoitecer limpava o dia
e o sol tomava seu descanso
nas costas do horizonte.
Diziam
em apalavradas cortinas corridas
que não temos herança
a não ser os títulos da alma
o impecável escanhoar do dia
a matéria incomensurável
dedilhada em guitarras ancestrais
no ímpar ornamentar das páginas admitidas.
Diziam
sem medo do medo
que seria uma litania não esconjurar os vultos
assisá-los no leito barroco
contra as manobras dos volúveis
em apeadeiros remotos.
Diziam
o que se podia dizer
e até o que se julgava
ter ficado por dizer
na demencial embriaguez das palavras;
o teatro mais alto
onde até as mãos pequenas tocam o céu.
Sem comentários:
Enviar um comentário