7.6.19

Insígnia

Descombino o oráculo
onde muitos se aninham
(para seu resguardo,
assim julgam).

Na contingência do parágrafo
a aspereza do verbo cru
saliva uma certa fúria escondida
(imaginam os ferozes estetas
em seu incomparável donaire).

Se as ameias fossem perfeitas
e as rosas perenemente perfumadas
os cintos lógicos da desmemória
não seriam o punhal sobre a jugular
e até as comezinhas coisas 
seriam o valor do ouro
(anunciam os ingénuos
de mãos atadas nas cortinas do pretérito).

Fazem-se as luas tingidas
pelas lágrimas sem rima
e as vozes sem nome correm sem medo
contra as paredes altas,
inacessíveis
(no pranto contumaz
da viuvez de quem não foi consorte).

À altura do miradouro
juntam-se as falas sem sentido
os sentidos proibidos
as proibições sem lei
e a lei de bronze que está esquecida
no forno ressequido
(e o homem magoado
indaga o horizonte sem freios).

Os escombros,
por estranho que seja,
não são velhos
e os capazes alinhavam as estrofes avulsas
de onde sai o mar em seu irredentismo
(contra a metáfora
do boémio totalidade).

O chão quente
seca a chuva inóspita
e as plantas não chegam a saciar-se. 
Os rótulos não sabem das garrafas
e as pálpebras retêm as vírgulas a destempo,
curadoras da gramática exemplar. 

Sem comentários: