30.1.20

Machado de paz

Digo-o
com todo o fervor
a centelha ávida a estalar
na boca:
confisco um pedaço do horizonte
preciso 
de um pouco de espaço para arregaçar os olhos 
e do redor trazer os instantes sortilégio
o muito que se pede 
ao promontório onde se tutelam as vontades.

Se em roda se verter o precipício
diremos 
sem temor
que não sobram 
as angústias em sede própria
dissolvidas no caldear da noite
em pose de luar luminoso
em pose
até que o retrato caiba na moldura.

Tomo em mim a frescura da manhã
e deito os dados ao relampejar das vozes
ainda timoratas
ainda apressadas
dos matinais passageiros
os tumulares esqueletos contrariados,
que mais parecem corpos mutilados.

Não admito
se não 
o vago pesar das ondas
em que se deitam os pássaros 
para de meu vagar 
saber tirar a rasante do desmedo.

Divago,
talvez.

Desmonto 
as agitadas vozes atribuladas
renego-as às sombras lenticulares
aos lugares
onde medram os apóstatas dos pleitos.

Não 
em mim não coabitam os gládios
e sei do santuário
onde se somam as pazes.

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