Esconjurado o fogo ávido
os corpos deitados pelo chão
sobre tapetes puídos
exalam o sacrifício do medo
enquanto pela portada
um clarão se projeta na parede.
Até parece
que a parede
não está encardida.
Os projetos de passado
imersos no bolso do avesso
como se houvesse oráculos
e dos oráculos pudéssemos pedir
o futuro emprestado.
Não se confia na resistência de materiais
depois de tantas labaredas
e de quase tudo consumido no planalto
onde os espectros ficam longe.
Imaginamos a maré que rasteja até ao areal:
os pequenos despojos de água
fundidos na areia
como acontece
com a memória que atravessa o tempo
e se encerra em pontes herméticas,
o lugarejo ermo onde avança o rosto
contra as espadas que dinamitam o sono
em estilhaços que tornam o dia impuro.
Amanhã faz-se o resto.
A vassoura está perdida
e os vestígios ainda fumegantes
bolçam uma maldição,
uma maldição qualquer,
anónima,
ergástula,
o condoído lamento
que saciado na anemia.
Atravessam-se as portas
que se julgava fechadas.
Os amotinados não estão no lugar
– eles nunca estão em lugar algum.
Leiam-se os éditos
nos idiomas que houver por inventariar
e diga-se,
com a voz ornamentada a tinta da china,
que a enxada remexe a terra
à procura dos diamantes prometidos.
Os medos não vêm à porta
e no juramento sem cerimónia
enfeitam-se as deusas com a nudez
entre os dedos que as desenham
e as bocas vadias
que nelas encontram sede.
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