O penhor sem alma
toma de assalto a renda alheia
ao notar
os excruciantes pesares
dos penhorados.
Usurários,
os juros,
combinam com a aspereza da alma
(afinal, tem-na,
mas de mau calibre).
O penhor
desalma os penhorados.
Estes,
em farta súplica,
pedem
(e fazem-no “penhoradamente”)
para haver lugar a alguma indulgência.
O penhor
homem pouco letrado
não sabe o significado de “indulgência”
e tem vergonha de perguntar
(ou de deitar mão a um dicionário
sob o olhar inquisitivo dos outros).
Recusa a súplica,
compulsivamente desconfiado.
Os penhorados perdem tudo.
O penhor
sem saber da vicissitude
perde
o que perderam os penhorados:
não há vivalma
que dê um cêntimo
por aquele pecúlio penhorado.
Termos em que se pode epilogar
reconhecendo
que o penhor foi devorado
pela avareza
(e pela necedade).
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