5.2.21

O avarento

O penhor sem alma

toma de assalto a renda alheia

ao notar 

os excruciantes pesares

dos penhorados.

Usurários,

os juros,

combinam com a aspereza da alma

 

(afinal, tem-na, 

mas de mau calibre).

 

O penhor

desalma os penhorados.

Estes, 

em farta súplica,

pedem

 

(e fazem-no “penhoradamente”)

 

para haver lugar a alguma indulgência.

O penhor

homem pouco letrado

não sabe o significado de “indulgência”

e tem vergonha de perguntar

 

(ou de deitar mão a um dicionário

sob o olhar inquisitivo dos outros).

 

Recusa a súplica,

compulsivamente desconfiado.

Os penhorados perdem tudo.

O penhor

sem saber da vicissitude

perde 

o que perderam os penhorados:

não há vivalma 

que dê um cêntimo

por aquele pecúlio penhorado.

Termos em que se pode epilogar

reconhecendo

que o penhor foi devorado

pela avareza

 

(e pela necedade). 

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