16.2.21

Retiro

O retiro

ou mais:

o lúgubre lugar

exílio das palavras embaçadas

penhor ávido

das deslembranças.

Ou retiro

às mealhas da memória

o corpo extático

e no alpendre

que tutela o rio

agiganto o eu novo

que se retira

à hibernação gorada.

No retiro ermo

ou mais:

na fuga que desmata

os medos de seus olhos

desvenda-se o mapa

tecido 

pelos dedos não gastos

mercancia da alma sem freio

oráculo sem medida do tempo.

Retiro-me

a tempo do destempo 

que me entroniza

e acredito

no póstumo candelabro

vertendo a cera derruída

pelas lágrimas esquecidas.

Desse retiro

onde sou o que serei:

montanha sem neve

impressão digital da primavera cega

rio estrepitoso

cavando o seu caudal

com as mãos não gastas

e o selo

de um olhar sem medo.

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