Não se montam escadotes
num rossio deixado ao deus-dará.
Os poetas esqueceram-se da chave.
Pelo estreito corrimão
não cabem dois pares de mãos.
Aos cabelos enxovalhados
atirem-se pétalas de ouro.
Este puré não vinga
na assembleia de Ícaro.
Não se elevam sacerdotes
no harém esquecido num mapa perdido.
Os poetas nunca foram servis.
Pelas avenidas apinhadas
correm as mãos desajeitadas.
Aos ourives apeçonhados
atirem-se cabelos desemparedados.
Este vinho não convence
na conferência de Eros.
Não se fingem astronautas
na maré rasurada das medidas.
Os poetas não querem um céu.
Pelo cais solitário
avança a matilha caiada.
Aos órfãos revoltados
atirem-se mães à solta.
Este cozinhado não se valida
no estertor de Zeus.
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