2.2.21

Roteiro para sair da desgraça

Não se montam escadotes

num rossio deixado ao deus-dará.

 

Os poetas esqueceram-se da chave.

 

Pelo estreito corrimão

não cabem dois pares de mãos.

 

Aos cabelos enxovalhados

atirem-se pétalas de ouro.

 

Este puré não vinga

na assembleia de Ícaro.

 

Não se elevam sacerdotes

no harém esquecido num mapa perdido.

 

Os poetas nunca foram servis.

 

Pelas avenidas apinhadas

correm as mãos desajeitadas.

 

Aos ourives apeçonhados

atirem-se cabelos desemparedados.

 

Este vinho não convence

na conferência de Eros.

 

Não se fingem astronautas

na maré rasurada das medidas.

 

Os poetas não querem um céu.

 

Pelo cais solitário

avança a matilha caiada.

 

Aos órfãos revoltados

atirem-se mães à solta.

 

Este cozinhado não se valida

no estertor de Zeus.

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