23.2.21

Fala

Parto sem as chaves da porta

não sei das marés amanhecidas

nas palavras suadas

e aos parapeitos nus devolvo

a fala. 

 

Oxalá seja uma empreitada impura

um daqueles objetos disformes

entoando o salitre atirado longe

e contra os tiranetes categóricos arrimar

a fala. 

 

Concebo-me fecundo aríete

nos despojos de um dia esquecido

arriscando a métrica invalida

e às Desdémonas participo o império

da fala. 

 

No juramento sem lacre

o coração arremete contra o remoinho

onde máscaras sem sentido

patrocinam um medo que não meço

pela fala. 

 

Chego ao estuário que extasia a boca

sem saber dos caminhos demandados

e todavia rasurei as arestas sem previsão

num anoitecer sem angústia à mercê 

da fala. 

 

Na fala que me concebe

arrumo as palavras mortas

contra as armaduras tomadas por vultos

antes que seja a espera a minha consumição

na fala em que me concebo.

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