15.4.22

Anti corrosão

Devo as mãos ao asfalto fundente. 

O provérbio arrasta-se na boca

é como se 

picaretas matraqueassem a língua

e da tortura o sangue falasse 

em vez da voz. 

Se esta varanda está gasta

vou a outra embocadura

onde o rio seja eflúvio de mim

e as portas sejam altas fortalezas

abertas contra a tirania do silêncio. 

Possam beijos dar cor às bocas

e da escotilha segredar as manhãs altivas

nem que a penumbra seja o espelho 

em que se acalmam as sílabas. 

Ao longe

o castelo

sozinho

desamparado na paisagem secular

sulca as nuvens que aterram no seu regaço. 

A partida não é o avesso da chegada

apenas

um apeadeiro

no abundante esmo de apeadeiros

onde se hasteia a escolha. 

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