29.4.22

RPM

 

Sault, “Heart”, in https://www.youtube.com/watch?v=-5OzNTZystM

O sonho que cicia

na fronteira do ouvido

harpeja o crepitar da lareira

sem que da angústia contumaz

o dia tenha entendimento.

Os degraus movem-se

verticais

à medida que os dedos caiam

a silhueta da enseada.

Ouço palavras atropeladas

espanholadamente atropeladas

num grasnar singular

e o barco promete-se ao mar alto.

 

E quem não tem as suas enseadas?

 

Pergunto-me

silenciosamente

omitindo o bramido deslimítrofe

arrumando as cortinas que retesam a claridade

se as enseadas não são privados exílios

ocultando a multitudinária fala gongórica.

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