28.3.23

Por inteiro

A pedra que repousa no miradouro

dita a sentença boreal

a armadura desfeita

que revela a nudez,

simplicidade sem cilada

o mosto inteiro 

que fala na vez da voz gongórica

o rosto incindível

que não tergiversa diante dos lobos

matéria fundida de ouro e lágrimas

os versos como âncora certificada

no improvável vinho servido em xisto.

Os socalcos descem às mãos

e das estrofes empunhadas sobra o mel

o dorso desimpedido

contra os embaraços de mastins por aí,

avulsos e estultos.

Não capitularemos

– diz-se em coro

desembainhando a alvura 

que caia a pele, os ossos, o corpo inteiro,

a garantia perene das coisas

na sua verosimilhança insuspeita.

Somos os esteios que não precisam de esteios

e ao espelho não contamos gramas de pudor

nem perfilhamos sermões não encomendados.

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