A matéria combustível
agarra-se à pele.
Ontem era tatuagem.
Hoje
que se fala apenas de babugem
os arroios vão cheios de água
que houve chuva fora do tempo
talvez um rio de lágrimas,
a descondição dos melancólicos.
Alguém diz:
é preciso partir pedra,
naquela irritante mania
de usar expressões idiomáticas.
(Como se partir pedra
desse para jurar um caminho
ou assegurar um destino
e uma pedreira fosse o embaraço inicial
e todos os que não capitulam
tivessem de vestir o fato de macaco
– outra expressão idiomática
sem paradeiro –
e, na posse de uma humilde picareta,
pacientemente desatasse
a partir a pedra-obstáculo.)
Alguém diz
a maré não está a preceito
e a matéria combustível oferece-se
ao arrefecimento,
a preguiça como aval
que a persistência não é uma arte que se domina.
Os olhos embotados desistem do dia.
Ficam as rugas em salmoura
à espera de serem convertidas
na pele que se dá ao tempo restante.
Por dentro
escondido
o vulcão resiste à hibernação.
As convulsões interiores são como revoluções
espasmos atirando as partes contraditórias
umas contra as outras
como se por dentro do houvesse labirintos
por onde se esgueira a lava
que teimosamente resiste à anestesia forçada.
Por dentro
a resistência dos elementos
ateia a força bruta das páginas arrancadas
ao torpor.
Contra a letargia do futuro
contra as expressões idiomáticas
e os espasmos dos lugares-comuns
a favor dos versos que se sublevam
contra a tirania do que
(dizem ser)
irremediável.
Até prova em contrário,
avivada na carne-viva que deixou de ser,
não estou convencido que a finitude
é o verbo forte.
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