27.3.23

O indulto

O indulto 

abate-se sobre o dia finito

a jeito da indigência,

o princípio geral de tudo

a confusão entre arbustos baldios

e folhagem extravagante da selva. 

 

Dizia-se:

é por estas desconclusões

que se arremata a desconfiança:

uns olham para os outros

de pé atrás

 

            (caso, único, 

            que os que partem atrás

            estão em vantagem)

 

para serem retribuídos 

com a mesma indiferença. 

 

Ao menos,

não há assimetrias

no escrutínio de um mínimo denominador comum. 

 

O indulto

diz mais de quem perdoa

do que do perdão

 

(o perdoado é o que menos interessava).

 

Esta é a terra de ninguém

em que o indultado desconfia da piedade

e o indultor pratica generosidade 

de que é usufrutuário. 

Os bons espíritos

de tanta bondade que a si convocam

nunca se descomprometeram dos padrões válidos:

a bondade é um reflexivo ato,

no inconfessável pressentimento

das indulgências provadas 

por mercê da bondade.

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