Intrépidos
os
rapazes fugiam do sossego.
Desassossegavam
as campainhas dos vizinhos
e
deitavam-se a fugir, em louco corre-corre.
Amarravam
os cornos das vacas ao cercado
gastando
gargalhadas diante
do
gado desembestado.
Bebiam
vinho por copos de leite
pagavam
à cidade com altercações
quando
a cidade perseguia a noite tranquila.
As
fisgas cuspiam pedras afiadas.
Do
alto do prédio
disparavam
sacos de água
zelosamente
ao lado de quem passasse.
Passavam
o tempo a arranjar partidas
nem
que fosse para matar o tempo
(que
o tempo desocupado era fértil).
Não
era por mal
se
acaso causassem dano
–
e, assim como assim,
o
dano não era um rasgão doloroso
na
carne das vítimas.
Um
dia,
já
espigadotes,
caíram
no engodo de umas raparigas.
Achavam
que iam ter deleites,
não
desconfiaram das facilidades.
Acharam-se
prisioneiros
numa
fábrica sem serventia
reféns
de uma armadilha.
Não
tinham saída
e
a noite teve de ser ao relento
assaltados
por um frio invernal.
Dois
dias depois
a
polícia veio em resgate.
Famintos
e cheios de frio,
as
mãos trémulas nem conseguindo segurar
os
mantimentos de emergência,
quase
juravam que não voltariam
a
ser estarolas.
Mas
apenas quase foi a jura:
depressa
o sangue ferveu nas veias
e
as promessas da aflição
nem
subiram à boca de cena.
Estava-lhes
no sangue
serem
doidivanas sem freio
madraços
sem remédio
rasgar
roupas puídas nas aventuras demenciais
insultar
agentes da autoridade
pregar
sustos a senhores bem-apessoados
e
rir,
rir
tudo o que vinha da barriga
sem
travarem a função.
Suspeita-se
que
eram tutores da felicidade
inteira.
Deles
não há notícia
tempo
bastante depois
para
serem adultos e bem-postos
(ou
adultos e em perdição).
Do
seu paradeiro não há menção
nem
os vizinhos sabem onde se dissolveram.
Os
bons rapazes
em
segredo
à
distância e sem se verem
cultivam
ainda
a
frenética passagem pela juventude.
E
conservam comendas que o atestam.