3.2.16

Marco geodésico

A boca prova as nozes noturnas
devolve em dobro os prazeres possíveis.
Os animais contorcem-se
mas não é de dor,
é do amplexo de ternura
do contágio dos suores benignos
das ramagens das árvores perfumadas
em que eles se aninham.
Vão felizes,
os animais,
senhores da sua ciência.
Vejo tudo isto
com os olhos sequiosos
com o dorso curvado sobre o terraço
que é sobranceiro ao mundo.
As mãos sentem o calor da terra
sobem à fronte
limpam as gotas de suor que lacrimejam,
selando o cansaço.
Não há queixumes
não há pesares
pelos idos que se reverberam
nem um pulsar tóxico a derrotar a pele;
há,
apenas,
o sentimento maior
ondas que se agigantam
o desenho belo das silhuetas
o ciciar que adormece
dedos entrelaçados
que emprestam febre aos corpos.
Visto de fora
o quadro sublime
espraia-se no estirador
onde se afinam as palavras:
apetece beber na terra
beber nos sortilégios ditados pelas palavras
domar o cavalo furioso que seja impedimento
travar os alvoroços que esvoejem.
Aportamos
onde a madrugada alisa os suores frios
à espera que a alvorada solte seu freio
e depois tudo seja
claridade a desobstruir estorvos.
Até que nas mãos repouse
o ouro puro
o esteio calculado
os olhos desalfandegados.
E o amor inteiro.

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