12.2.16

Desarmado

Arrumei as lanças afiadas
numa cova funda junto ao rio.
Deitei uns alqueires de terra húmida
e calquei-a em jeito de certificação.
Agora
devem estar enferrujadas
e essa ferrugem condiz
com as manhãs claras que,
desde então,
se tornaram imperatrizes.
Agora
tenho armas nas mãos
as mãos que moldam os rostos
com o perfume do afeto.
Os olhos são ogivas
que irradiam bondade.
Já não empenho vernáculo.
Não quero saber
dos magnatas da estultícia
dos falsos querubins que fraquejam
em sórdidas profecias
dos cultores da ignomínia
dos ilustres mitómanos
ilusionistas de um universo só deles.
Nada disso importa.
Só importam as palavras de ouro
os abraços apertados
o laço colorido
que faz o amplexo dos amantes
o leite que desazedou.
O desarmamento 
abonou a indiferença.
É a melhor prova de indulgência
e a alma
(já desabituada da angústia)
agradece em penhor.

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