22.2.16

A loucura

E de novo
a loucura.
Pintada nas asas de um avião
esbracejando na ilha noturna
dividindo sete por três
(para dar número inteiro)
falando ao ouvido de um macaco
treinando haiku no meio de um nenúfar
cantando em cima de uma música
(com o poema a destempo)
cortando as unhas no elevador
soprando sílabas no papel de embrulho
motivando garças pernaltas a pesar arroz
ocupando o sofá do figurão
metendo marcha-atrás na ribanceira pelas costas
depondo as glórias fátuas
pitando cortinas com a poeira cósmica
debitando orações de um livro sepultado
congeminando os planos mais altos
atraiçoando os cães danados
irritando a glote pavoneada
recusando os sins
e deitando na cama sem lençóis
à espera de uma noite madraça.
E de novo
a loucura.
Timorata.
Sequaz.
Amarela.
Irada.
Içada.
A loucura.
Monumental arbitrariedade
de deuses infames
ou apenas
objeto decorativo
contra a indiferença geral.

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